Os gers são uma espécie de barraca circular, feita de um tipo feltro, coberta por couro e com uma armação de madeira, cor cordas na volta amarrando tudo junto.

É assim que os nômades vivem até hoje, obviamente sem luz elétrica (à base de velas), sem água encanada (eles buscam em um rio próximo) ou esgoto (usam fossas). Eles vão mudando o acampamento de lugar conforme a época do ano e a disponibilidade de recursos no local.
Eu e o Filipe ficamos acomodados em um ger juntamente com um escocês e dois holandeses (pai e filho). Almoçamos a comida típica deles (algo parecido com uma massa com legumes e pedaços de carne de procedência desconhecida – desconfiamos que seja de cavalo, já que o leite que eles serviam é de égua) e tomamos um chá gostoso para fazer a digestão.
Pela tarde rolou uma cavalgada! Começou super numa boa, o que foi muito bom já que eu não me sinto muito segura em cima de cavalos... hehe... Mas e não é que o meu cavalo era o mais bonzinho de todos?! A orientação era de que se quiséssemos que o cavalo andasse mais rápido disséssemos a palavra Tchu (soa algo como 2 em inglês ou com tchu de “tchutchuca”). Enquanto todo mundo tinha que ficar repetindo e dando na bunda dos cavalos pra eles andarem, pra mim bastava dizer uma vez “Tchu, Cavalinho!”, e ele saia saltitando todo faceiro. Como eu tinha medo de deixar ele ir rápido o suficiente para galopar fiquei o passeio inteiro troteando, hehehe!

Bom, meu cavalo se mostrou muito obediente e comportado até o último trecho do passeio de duas horas, quando depois de uma curva ele reconheceu o caminho de casa parece que ele esqueceu completamente que estava me carregando no lombo e saiu em disparada! Como se isso não bastasse, ele avistou lá na subida de um morro um grupo de cavalos soltos, e foi aí que ele enlouqueceu de vez! Ele corria tanto que eu me senti a legítima jóquei! Entrei em pânico, me agarrei na sela e comecei a gritar. Quando eu já estava prestes a tomar a decisão de saltar do cavalo, reconsiderei a idéia e segurando a sela com uma mão, joguei o corpo pra trás e puxei as rédeas com todas as minhas forças (ainda gritando). Ufa! Consegui fazer ele diminuir o ritmo e voltar pra casa. Mas que susto! A esta altura os mongóis do acampamento já estavam vindo me salvar, morri de vergonha, hehehe!

Voltamos para o nosso ger para dar uma descansada e exatamente neste momento tivemos a chance de colocar em prova a estrutura dos nômades: veio a chuva! E que chuva! Nossa... Eu não ouvia trovões tão assustadores desde que estava no Brasil. O dia virou noite e os raios eram lindos/monstruosos! Mas a chuva não demorou a passar e o nosso ger sobreviveu sem grandes avarias.

A esta altura os mongóis apareceram com uma bola de futebol (veja só...) e desafiaram os forasteiros para uma “pelada”. Assim, o Time Nacional da Mongólia (6 deles) contra a “Rapa” (leia-se: um brasileiro – o Filipe, um holandês – o filho, dois finlandeses – um deles abandonou o jogo nos primeiros 10 minutos e um escocês no gol – com seus 55 anos). No final das contas o futebol mongol não se mostrou dos mais desafiantes e placar do amistoso ficou em 6 a 4 para o time visitante (o brasileiro marcando 4 dos 6 gols do time! hehehe).
Assim terminou nosso dia no acampamento mongol e nos recolhemos para o nosso ger, que outra vez se mostrou eficiente frente à tempestade que voltou ainda mais forte durante a noite.