Wednesday 29 July 2009

Acampando com os nômades na Mongólia

O auge da passagem pela Mongólia foi o acampamento com os nômades. Acordamos cedinho e pegamos a estrada juntamente com um grupo de viajantes até um Ger Camp, dentro do Parque Nacional de Gorkhi-Terelj.
Os gers são uma espécie de barraca circular, feita de um tipo feltro, coberta por couro e com uma armação de madeira, cor cordas na volta amarrando tudo junto.



É assim que os nômades vivem até hoje, obviamente sem luz elétrica (à base de velas), sem água encanada (eles buscam em um rio próximo) ou esgoto (usam fossas). Eles vão mudando o acampamento de lugar conforme a época do ano e a disponibilidade de recursos no local.
Eu e o Filipe ficamos acomodados em um ger juntamente com um escocês e dois holandeses (pai e filho). Almoçamos a comida típica deles (algo parecido com uma massa com legumes e pedaços de carne de procedência desconhecida – desconfiamos que seja de cavalo, já que o leite que eles serviam é de égua) e tomamos um chá gostoso para fazer a digestão.
Pela tarde rolou uma cavalgada! Começou super numa boa, o que foi muito bom já que eu não me sinto muito segura em cima de cavalos... hehe... Mas e não é que o meu cavalo era o mais bonzinho de todos?! A orientação era de que se quiséssemos que o cavalo andasse mais rápido disséssemos a palavra Tchu (soa algo como 2 em inglês ou com tchu de “tchutchuca”). Enquanto todo mundo tinha que ficar repetindo e dando na bunda dos cavalos pra eles andarem, pra mim bastava dizer uma vez “Tchu, Cavalinho!”, e ele saia saltitando todo faceiro. Como eu tinha medo de deixar ele ir rápido o suficiente para galopar fiquei o passeio inteiro troteando, hehehe!



Bom, meu cavalo se mostrou muito obediente e comportado até o último trecho do passeio de duas horas, quando depois de uma curva ele reconheceu o caminho de casa parece que ele esqueceu completamente que estava me carregando no lombo e saiu em disparada! Como se isso não bastasse, ele avistou lá na subida de um morro um grupo de cavalos soltos, e foi aí que ele enlouqueceu de vez! Ele corria tanto que eu me senti a legítima jóquei! Entrei em pânico, me agarrei na sela e comecei a gritar. Quando eu já estava prestes a tomar a decisão de saltar do cavalo, reconsiderei a idéia e segurando a sela com uma mão, joguei o corpo pra trás e puxei as rédeas com todas as minhas forças (ainda gritando). Ufa! Consegui fazer ele diminuir o ritmo e voltar pra casa. Mas que susto! A esta altura os mongóis do acampamento já estavam vindo me salvar, morri de vergonha, hehehe!



Voltamos para o nosso ger para dar uma descansada e exatamente neste momento tivemos a chance de colocar em prova a estrutura dos nômades: veio a chuva! E que chuva! Nossa... Eu não ouvia trovões tão assustadores desde que estava no Brasil. O dia virou noite e os raios eram lindos/monstruosos! Mas a chuva não demorou a passar e o nosso ger sobreviveu sem grandes avarias.



A esta altura os mongóis apareceram com uma bola de futebol (veja só...) e desafiaram os forasteiros para uma “pelada”. Assim, o Time Nacional da Mongólia (6 deles) contra a “Rapa” (leia-se: um brasileiro – o Filipe, um holandês – o filho, dois finlandeses – um deles abandonou o jogo nos primeiros 10 minutos e um escocês no gol – com seus 55 anos). No final das contas o futebol mongol não se mostrou dos mais desafiantes e placar do amistoso ficou em 6 a 4 para o time visitante (o brasileiro marcando 4 dos 6 gols do time! hehehe).
Assim terminou nosso dia no acampamento mongol e nos recolhemos para o nosso ger, que outra vez se mostrou eficiente frente à tempestade que voltou ainda mais forte durante a noite.



Na manhã seguinte nos foi sugerido mais um passeio a cavalo que eu delicadamente recusei. Voltamos a Ulaambaatar para depois seguir pelo último trecho da Transiberiana, até Pequim, na China!

Os templos e o beijo estalado na Mongólia

Seguindo viagem, fizemos uma parada curta na cidade de Ulan Ude, ainda na Rússia (eles se orgulham de ter a maior estátua da cabeça do Lênin do país!). A partir dali nós deixamos a Transiberiana para trás, pois ela segue sempre em direção ao leste, até a cidade de Vladvostok (quem aí jogou WAR?), na costa do Oceano Pacífico, e passamos a percorrer a Transmongoliana que segue para o sul, até a cidade de Ulaambaatar, a capital da Mongólia! O cenário agora é muito diferente do da Sibéria: as montanhas com pinheiros dão espaço aos morros baixos cobertos de grama – estilo Teletubbies.
A passagem pela fronteira entre a Rússia e a Mongólia levou 5 longas horas. Assim que colocamos os pés para fora do trem, as 7h da manhã de domingo, uma menina nos recebeu com uma plaquinha com os nossos nomes, um largo sorriso no rosto e um empolgado “Welcome to Mongolia!”. Entramos no carro e fomos até o apartamento dela (200 metros da estação de trem), onde havíamos reservado um quarto para os próximos dias.
Fomos passear pela cidade. Logo na saída do hostel esperávamos o sinal fechar para atravessarmos uma rua e uma senhora (pra lá dos seus 50 anos, com um chapéu muito simpático), que vinha ao nosso lado fez sinal para atravessarmos mesmo assim, e seguiu caminhando em meio aos carros que não paravam. Nós admiramos a coragem dela e seguimos como uma sombra. Ao chegar ao outro lado sãos e salvos ela virou pra gente e começou a falar em mongol, mas assim que percebeu que não havíamos entendido nada ela disse: “English?”. Assentimos com a cabeça. Aí veio o susto: Ela me abraçou forte e me lascou um beijo estalado na bochecha. Imediatamente me deixou de lado e se pendurou no Filipe que, desconfiado como um bom paulistano, já colocou as mãos nos bolsos, hehehe... Ela abraçou e beijou ele também e se virou e foi embora, sorridente!
Seguimos nosso passeio até o Museu Nacional, que conta a história de toda a região desde a Idade da Pedra até os dias de hoje, bastante interessante. Depois fomos até o Gandantegchinlen Khid, um monastério budista fascinante, com os monges rezando enquanto os turistas tiram fotos e jogam farelos para as pompas, que combinação...



Fomos também ao Palácio do Governo (ou o Parlamento), onde tem uma estátua gigantesca do Gengis Khan (o grande herói nacional).



Visitamos ainda o Museu de Choijin Lama, um antigo monastério budista que não opera como tal desde 1938, sendo hoje um museu à religião, também interessante.

Friday 17 July 2009

O mais antigo e profundo lago do mundo

Foi em Irkutsk que meu corpo sentiu de verdade as mudanças de fuso-horários. Apesar de termos passado 52 horas – muito bem dormidas – dentro do trem, chegado no hostel as 5h30 da manhã e tendo ido dormir mais um pouco até umas 8h, eu não consegui levantar da cama. Aqui em Irkutsk estamos 5 horas a frente de Moscou, e mais 3 horas a frente de Londres. Assim, quando acordamos as 8h para o meu corpo eram na verdade meia-noite. Tive que ficar na cama até perto do meio-dia, pra então sair pra passear pela cidade.
Saímos e logo achamos um restaurantezinho simpático para almoçar. Era um buffet por quilo! Eu nunca mais tinha visto um buffet por quilo desde que saí do Brasil! Comi bastante beterraba! Ai que saudade que eu tava de beterraba! A culinária russa até que se saiu bem comigo, que sou super chata com comida... Tinha também uma lasanha vegetariana, ai ai... dá até água na boca de lembrar.
De barriga forrada, fomos seguindo pela orla do Rio Angara, que cruza a cidade e desemboca no Lago Baikal. O rio é muito bonito, mas a orla está bem suja, cheia de pedaços de garrafa quebradas e lixo em geral. Ainda assim avistamos duas focas brincando na água, em meio a arbustos. Fomos seguindo até uma praça, onde as pessoas todas estavam curtindo o solzinho do final do dia e tomando sorvete. Aproveitamos para praticar as nossas habilidades mímicas e comprar um sorvete também. Demos mais uma volta, vimos mais uma das incontáveis estátuas do Lênin que tem espalhadas por este país e voltamos para o hostel.



O passeio em Irkutsk não foi dos mais longos, mas é bem verdade que não tem muuuuuito pra ver aqui, mas mesmo assim a cidade é bastante movimentada. Isso porque é a parada mais próxima para quem vai visitar o Lago Baikal, 60km daqui.
No dia seguinte fomos para Listvyanka, vilarejo à beira do lago. Este foi um dos pontos altos da viagem até agora! Não dá pra chamar de cidade, é apenas um vilarejozinho à beira do Lago Baikal. Resume-se a uma avenida ao longo da orla e três ruelas perpendiculares a esta. O nosso hostel ficava em uma destas ruelas, uma caminhada morro acima de cerca de 1km. Lá no alto ficava o nosso chalezinho, uma graça, todo de toras de madeira, com cordas entre as juntas, imagino que para ajudar a isolar do frio do inverno. Da nossa sacadinha tínhamos uma vista linda do lago.



Aliás, um pouquinho a respeito do Baikal: Ele é o mais antigo lago do mundo, e também o mais profundo. Em sua extensão de norte a sul mede 636km e tem um formato que lembra uma banana, assim, em sua parte mais larga mede apenas 60km. O lago se formou por causa do afastamento das placas tectônicas (e eu que achava que aquelas chatíssimas aulas de geografia nunca serviriam pra nada...), e a tendência é de que ele fique cada vez mais profundo e vire o quinto oceano do mundo, separando o continente asiático ao meio. Enquanto isso não acontece ele carrega o título de Lago Mais Profundo do Mundo, com 1.637km! Não é à toa que só aqui no lago fica quase um quinto de toda a água doce do mundo (não congelada), isso é mais de que os “Grandes” Lagos Americanos todos juntos!



Deixando um pouco pra lá os dados científicos, o lago por si só já é algo fenomenal. A água é tão tão tão limpinha, (são 40 metros de visibilidade, mas chega de dados... hehehe...) de um azul de ficar impressionado. Fizemos um passeio de barco de uma hora e passamos por penhascos lindíssimos, e, lá no meio das árvores e pedras tinha um pessoalzinho acampando, que inveja... hehe...



Nós passeamos também pela orla e colocamos os pés na água, mas isso foi uma experiência nada agradável. A água é tão gelada que parece que estão fincando agulhas na nossa pele, sem noção...



Então resolvemos comer um peixe que compramos ali do outro lado da rua, que fica sendo defumado ali mesmo, na hora. Comemos sentados num murinho, na beira do lago, com as mãos mesmo, uma delícia!






Só mais uma coisinha: Não se aplica a nossa viagem, já que estamos em pleno verão, mas não posso deixar de comentar que no inverno toda a superfície do lago congela, e o gelo chega a um metro de espessura, quando pode-se caminhar, patinar, andar de trenó puxados por cachorros e até mesmo dirigir um carro!

Aniversariando dentro do trem

52 Horas dentro do trem. Este foi o trecho mais longo da viagem. Entramos na Sibéria oficialmente e viajamos até a sua capital – Irkutsk.
De maneira bastante inconveniente embarcamos no trem a 1h39 da madrugada. Não havia outro jeito, já que este trem vinha de Moscou e foi a esta hora que passou por Ekaterimburg. Nossos colegas de cabine estavam dormindo e tentamos nos acomodar rapidamente e sem barulho.
Na manhã seguinte conhecemos o pessoal com quem dividimos o quartinho, eles faziam parte de um grupo de 13 americanos que estavam participando de uma especie de colônia de férias, pelo que entendi, eram todos educadores. Um dos que estava conosco, o Rob, era especialmente gentil, foi uma ótima companhia durante o tempo que passamos, até sorvete ele deu pra gente!
Depois de um dia todo, eles desembarcaram e no lugar deles entrou um senhor da Mongólia. Ele já chegou conversando, como todos, só que ao perceber que não entendíamos nada ele conseguiu, com gestos e palavras soltas nos contar que era da Mongólia e perguntar de onde éramos. Quando dissemos que somos brasileiros ele disse: Pelé! Garrincha! Sorrimos e a conversa acabou por ai...
Ah, desta vez fomos preparados para a viagem! Levamos muitos lanches e até mesmo ovos cozidos, seguindo o exemplo do vô no trecho Moscou-Ekaterimburg. Passamos muito bem as 52 horas. Aliás, o tempo passou muito rápido desta vez. As paisagens pela janela já são bem diferentes das dos dias anteriores.
Mais uma vez de maneira bastante inconveniente desembarcamos em Irkutsk as 5h da madrugada do dia 13 de julho. Pois é... Depois de ter passado o meu aniversário (dia 12) todinho dentro do trem. Mas também, quem mais passou o aniversário a bordo da Transiberiana?

Tragédia que virou atração

Ekaterimburg é a “grande” cidade da região dos Montes Urais (pouco mais de um milhão de habitantes). Decidimos fazer uma parada aqui mais para dar uma folga no meio da viagem do trem do que por nos interessarmos pela cidadezinha em si.
Ao que parece o grande atrativo da cidade é que foi aqui que os Bolcheviques, a mando de Lênin, em 1918, assassinaram o último Czar da Rússia, Nicolau II e toda a família dele (mulher, filho, quatro filhas, e ainda o médico da família, um servo, uma camareira e o cozinheiro)! Anos mais tarde a família – os Romanov – foram canonizados como mártires pela igreja ortodoxa. Sim, e eles usam isso como chamarisco para turistas.

Tu visita o local onde eles foram mortos e onde agora tem uma igreja, e uma estátua em homenagem a eles:


Depois tu vai até o meio da floresta e visita o local onde foram enterrados os corpos e onde agora tem um monastério.



E é isso aí!

Nesta cidade ficamos em um hostel que nos parecia quase que a única opção quando fizemos a reserva, meses atrás, pela internet. O local é um apartamento de um quarto, que a Katia (menina que gerencia o local), conseguiu convencer os seus pais a fazerem um hostel. O resultado são uns beliches na sala e no quarto, umas camas de armar e um sofá cama. Tudo muito velho. A impressão de todos que chegam é de “Putz... Onde é que eu vim parar...”. Mas no final das contas a Katia é tão tão tão querida e atenciosa, e o pessoal que fica lá também é tão legal que não tem como sair com arrependimento de ter ficado lá.



Conhecemos neste hostel pessoas super interessantes. A gente que achava que a nossa viagem era longa, ficou de queixo caído com as viagens que as pessoas estão fazendo! Conhecemos umas gurias escocesas que estão viajando por 8 meses! E uma americana que está viajando há 20 meses! As pessoas fazem coisas incríveis, de verdade!
Ekaterimburgo valeu por isso, pelas pessoas que conhecemos e pelo descanso da viagem vindo de Moscou e para a preparação da que estava por vir, de 52 horas, até Irkutsk, a capital da Sibéria!









Friday 10 July 2009

A vó, o vô e o piá. O tio e o outro vô.

Começamos a percorrer a Transiberiana (porque o trecho São Petersburgo – Moscou não é considerado parte desta ferrovia)! Embarcamos as 13h para uma viagem de 28h dentro do trem. Segue:
Ficamos em uma cabinezinha, com as caminhas, uma em cima e outra embaixo, como no trecho vindo de São Petersburgo, só que desta vez eram quatro camas, assim dividiríamos com mais duas pessoas.
Na verdade, dividimos com mais três: Uma vó, um vô e um piá (ele deve ter uns 5 aninhos). Eles conversaram um pouquinho conosco, mas assim que se deram conta de que a gente não entendia uma palavra do que eles falavam eles desistiram. O que mais me chamou a atenção foi que o piá não parava de comer! Foi pão, iogurte, kiwi, maçã, chocolate, bolacha, e o que mais a vó dele tirasse daquela sacola sem fim dela! Engraçado mesmo. Mas lá pelas tantas eu saquei qual era a estratégia da vó. Quando ela não conseguia mais controlar o piá, e ele não parava quieto, ela colocava ele sentadinho e dava alguma coisa pra ele comer... a gente sabe como as vós são... hehehe... Já o vô, bom, ele não participava muito. Ele ficava sentadinho ali, lendo um livrinho, o engraçado sobre ele é que ele era um cara meio espaçoso, mais porque ele é grandão do que por ser abusado. Bom, depois de um dia inteiro e uma noite inteira na mesma cabine, de manhã cedinho, as 7h (horário de Moscou – porque a esta altura já havíamos cruzado um ou dois fuso-horários), a vó e o piá desembarcaram. Quando o vô ficou pra trás, no trem, a gente se perguntou se ele realmente era o vô ou se ele era só um conhecido da família... Vai saber... Na mesma parada entraram um vô muito mais vô do que o anterior (este agora deveria ter uns 70 anos) e mais três pessoas – carregando as sacolas dele. Vamos chamar agora o vô anterior de tio, e o vô novo de vô. O vô (que acabou de chegar) puxou uma sacola e começou a tirar coisas de dentro. Ele tirou um pão de sanduíche – não fatiado, cortou ele na metade e deu uma parte pra mim (???), eu agradeci e deixei de ladinho, hehe... Depois ele tirou um vidro, desses de conserva, e ele tinha 5 ovos dentro, cozidos, com casca e tudo, que ele foi descascando e comendo no decorrer da viagem. Ele tirou também da sacola (parece que as sacolas por aqui não têm fundo mesmo), duas garrafas de 2,5 litros de água cada, e uma caixinha de suco de tomate. Surgiram ainda um saco de tomates e um saco de bergamotas! Mas o ápice ainda estava por vir: o vô puxou de dentro da sacola um pacote, alguma coisa enrolada em folhas de jornal. Ele foi desenrolando... desenrolando... e não é que surge um frango assado! E assim ele foi curtindo a viagem dele, comendo o franguinho, com pão, ovos e etc... Tinha até um limãozinho pra dar uma temperada, hehehe...
Fora isso, o vô conversava bastante. Aliás, ele só conversava. Ele falava, falava, falava e o tio só ouvia... Não teve jeito dele poder voltar a ler o livrinho dele. Ficamos chateados por não conseguir entender nada do que ele falava, porque ao que parecia ele contava muitas histórias, e gesticulava, e o tio ria... Teria sido tão mais interessante se a gente conseguisse entender os contos dele... Mas, enfim, os Urais, do outro lado da janela, também mereciam nossa atenção.
E assim, 11 horas e 1.816km mais tarde, após cruzarmos a divisa oficial entre Europa e Ásia (tem um obelisco marcando o local), nós chegamos na cidade de Ekaterimburg, a capital da região dos Montes Urais, mas isto já é assunto para o próximo post.


Vista da janela do trem

Corredor do trem.

Escrevendo uns postais pra passar o tempo.


O vô e os mantimentos dele.






A Capital do Maior País do Mundo!

Enfim, chegamos à capital Russa! Como é que eu vou descrever Moscou sem usar chavões... Exuberante? Marcante? Contraditória? Forte? Russa... é isso que ela é... e, acreditem, isso significa muito!
A Praça Vermelha, com os prédios que a rodeiam é Majestosa! O Kremlin com o seu muro vermelho é Imponente! A Catedral de São Basílio, com as cúpulas coloridíssimas é Espetacular! O Mausoléu do Lênin, ai meu Deus... E não é que o cara tá lá dentro mesmo? ? ?
Ok, vamos por partes:
Chegamos em Moscou no final da tarde e fomos direto pro hostel. Nem saímos mais neste dia. Desta vez ficamos em um dormitório com mais 8 pessoas, mas até que demos sorte, pegamos colegas de quarto “gente boa”. Umas americanas, uns australianos e uns franceses.
Cedinho no dia seguinte saímos para ver o que a cidade tem de mais popular, a Praça Vermelha. Caminhadinha curtíssima, o hostel ficava a menos de 10min. Chegando lá: pessoas, várias pessoas! E uma fila que não se via o fim. Tiramos muuuuitas fotos! A partir de agora vou colocando as fotos conforme vou contando sobre os lugares, assim fica mais fácil de acompanhar.
A Catedral de São Basílio é realmente impressionante (apesar de termos achado que ela era bem maior do que realmente é), super colorida, e vendo de perto os detalhes são ainda mais ricos. A construção da catedral foi finalizada em 1561, e a visita ao interior destoa completamente da vista que se tem do lado de fora: algumas capelas pequenas, com algumas imagens, tudo muito simples, escuro e com aparência velha, nem parece que estamos no mesmo lugar.
Catedral de São Basílio



Diretamente do outro lado da praça tem um prédio todo vermelho com detalhes em branco, lindíssimo. Este é o Museu Histórico do Estado, que ao que me parece é muito mais interessante por fora do que por dentro.

Museu Histórico do Estado



Em uma das laterais da praça fica o GUM um shopping assim, de frente para o Kremlin. É na verdade um dos prédios que mais chama a atenção na praça, pelo seu tamanho e pela sua beleza. Ele foi construído em 1890 mas permaneceu fechado e abandonado durante todo o período comunista. Hoje é um local para abastados e curiosos (nós!).

GUM



Finalmente, no lado oposto ao shopping fica o Kremlin. Sede do governo Russo, é um conjunto de prédios rodeado por um muro vermelho. Grande parte do local não é acessível a turistas, mas ainda assim pode-se fazer uma visita guiada por parte do complexo. Em uma das esquinas do muro fica a Tomba do Soldado Desconhecido, em homenagem aos mortos na Segunda Guerra Mundial.

Um dos portões de entrada do Kremlin.


Muros vermelhos do Kremlin.


Tumba do Soldado Desconhecido.



Uma das atrações mais procuradas da Praça Vermelha, ao menos é para aquela loooonga fila que vimos logo que chegamos levava: O Mausoléu do Lênin. É um prédio de pedra com um monte de guardas, em cada canto. Então, depois de ficar mais de hora na fila, tu vai seguindo um corredor, e tudo é muito escuro, e as paredes são pretas e tem um guarda em cada curva (e eles te mandam tirar as mãos do bolso, sem falar, com mímicas... hihihi). Daí, depois de uma curva lá tu dá de cara com o corpo do Lênin! Eu levei um susto! O cara tá lá, deitado, como num funeral mesmo, tem um caminhozinho que tu faz a volta ao redor dele e sai pelo outro lado. Pra falar a verdade, depois de 85 anos embalsamado, depois de tantos “conservantes” o corpo do cara mais parece um boneco de cera, mas eles juram que não! Durante alguns anos o corpo do Stálin esteve ao lado do Lênin, mas depois ele foi cremado e as cinzas estão junto do seu busto, entre o Mausoléu e o muro do Kremlin, junto com bustos e cinzas de outros grandes líderes Russos. Obviamente não pude tirar fotos dentro do Mausoléu, mas a fotinho do lugar por fora tá aí:

Mausoléu do Lênin.



Fora isso, também fomos ao Mercado Izmailovsky, que é tipo um brique, meio afastado mas enorme, compramos umas besteirinhas por ali. Depois resolvemos dar uma passada no Museu da Guerra Fria, mas parece que ele mudou de lugar, porque não tivemos jeito de achar o tal do lugar. Fomos então ao Museu de História Contemporânea, mas ele não abre nas segundas-feiras. Sem muita sorte, acabamos curtindo Moscou nas ruas mesmo, caminhamos bastante (sob sol e sob chuva), e, não posso deixar de mencionar, ficamos impressionados com as estações de metrô (detalhe: a malha de metrô de Moscou mede cerca de 278,8km!). As estações são verdadeiras obras de arte subterrâneas. Muitas delas com resquícios da época soviética, com bustos do Lênin, do Stalin, Marx, etc, isso fora os painéis com camponeses e crianças felizes. Fora as tantas vezes que a gente vê os soviéticos martelos e foices.

Aperitivo para a Transiberiana

Antes de tratar de Moscou preciso contar rapidamente como foi a vinda de São Petersburgo pra cá.
Viemos de trem. Foi como um aperitivo para a Transiberiana! Foram 8h de viagem apenas, durante o dia, e este trecho ainda não faz parte da Transiberiana de verdade, que começa só a partir de Moscou, mas já deu pra sentir um gostinho de como são os trens e como serão as viagens.
Os trens são divididos em vagões de assentos, vagões de cabines e vagão-restaurante. Eu tinha a impressão de que tinha comprado uma passagem no vagão de assentos, já que a viagem não era tão longa, mas ou eu estava enganada ou quem me vendeu as passagens estava enganado, acabamos ficando em um vagão de cabine, o que foi muito melhor! Os vagões de cabines têm camas! A cabine é bem pequeninha, tem uma espécie de beliche, mas a cama de cima não é presa na de baixo, ela é presa direto na parede. Como a nossa cabine tinha duas camas somente (os demais trechos da viagem, quando começarmos a Transiberiana mesmo, deverão ter quatro camas), deixamos as mochilas ali do nosso lado sem preocupações.
As fotos tiradas pela janela da nossa cabine não ficaram boas porque havia algum problema no isolamento. Elas são todas feitas com vidros duplos, para proteger do frio do inverno (que na Sibéria pode chegar a -60°C). A nossa janela estava todinha embaçada entre os dois vidros...
Mas tiramos fotos do trem e da cabinezinha, aí vai:

Este é o trem em que viajamos.

Os vagões de cabines são assim, com um corredorzinho e as portinhas na direita.

E esta é a nossa cabine por dentro.

Saturday 4 July 2009

São Petersburgo, Rússia

Chegamos na Rússia!
Tá, agora é só pegar o onibus 13 e descer na Estação de metrô mais próxima ao aeroporto e de lá pegar o metrô até o hostel.
Simples, né? Na verdade não. Na Rússia, além de só se falar russo, eles escrevem em Cirílico. Alguém aí já tentou ler em cirílico? Pois é, devagarinho a gente já tá conseguindo identificar umas letrinhas... Mas quando se chega no país não tem nem como conseguir ler na parada a direção em que o ônibus está indo!
No final das contas conseguimos nos achar e achar o hostel. Largamos nossas tralhas e já fomos logo dar um passeio.
Para os curiosos: São Petersburgo, que já foi chamada, também, de Petrogrado, em 1914-24 e de Leningrado, em 1924-91 (quando Lênin morreu) e só com o final da União Soviética, em 1991 voltou a adotar o seu nome original, foi fundada no início do século 18 por Pedro, o Grande, que construiu ali uma fortaleza para defesa contra os suecos durante a Guerra do Norte. Depois de ganhar a guerra, Pedro transferiu a capital de Moscou para cá, em 1709. A partir daí foi uma beleza, até que, em 1917, por causa da Revolução Russa e da guerra civil que se sucedeu, os bolcheviques transferiram a capital de novo para Moscou. Nos anos que se seguiram a cidade entrou em uma gradativa decadência. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha, no que chamaram de Operação Barbarossa, cercou Leningrado (tradução literal de “Cidade de Lênin”) por 900 dias, (nov/1941 – jan/1944) quando morreram cerca de 1 milhão de pessoas, a grande maioria de frio, fome e doenças.
São Petersburgo é hoje a segunda maior cidade da Rússia (com 4.6 milhões de habitantes), e a quarta maior em território da Europa (atrás ainda de Moscou, Londres e Paris). Cortada pelo rio Neva e por diversos canais, há quem a chame de “Veneza do Norte” (nada a ver, hehehe). Da mesma maneira que Riga, na Letônia, o Centro Histórico de São Petersburgo também constitui patrimônio mundial da UNESCO.
Nossa estadia na cidade foi de dois dias apenas, durante os quais percorremos os principais pontos a pé mesmo, e dá-lhe pernada! Conhecemos o Hermitage, que é um dos mais importantes museus do país. Ele é, na verdade, um complexo com diversos museus, e o prédio principal, o Palácio de Inverno, com 1.057 salas (!), foi fundado no século 18. Também interessante é a Coluna de Aleksander, em frente ao palácio, com um anjo no topo que comemora a vitória russa sobre Napoleão em 1812. Visitamos também a Igreja do “Salvador Sobre o Sangue Derramado”, dessas típicas russas, que mais parece bolo de aniversário de criança. A Catedral Kazan, que mais parece uma miniatura da Basílica de San Pietro, no Vaticano e a Catedral de Santo Isaac. No dia seguinte fomos conhecer a tal da Fortaleza de Pedro e Paulo, que foi o motivo da fundação da cidade. A verdade é que a fortaleza que foi construída para proteção durante a guerra do Norte contra os suecos só foi finalizada quase 80 anos após o término da tal guerra, e mais de 60 anos depois da morte de Pedro, o Grande que ordenou a sua construção. Talvez melhor assim, porque não é preciso ser expert no assunto pra observar que ela não tem muito de “fortaleza”, mais parece uma vila em uma ilhota, com um muro medíocre na volta.
A impressão que fica é de que São Petersburgo é uma cidade cheia de personalidade. São marcantes os contrastes. Resquícios da época da União Soviética e a modernidade que chega com tudo, me intriga como estará a cidade daqui a 50 anos.
Vamos ver então, que tal a nossa próxima parada: Moscou.



Estátua em homenagem a Pedro, o Grande




Catedral Kazan





Catedral de Santo Isaac





Igreja do "Salvador Sobre o Sangue Derramado"




Coluna de Aleksander



Palácio de Inverno, do Hermitage

Friday 3 July 2009

Riga, na Letônia

Finalmente, depois de uma correria danada pra acertar os últimos detalhes, na madrugada da última quarta-feira deixamos Londres definitivamente para a nossa Big Trip pela Ásia.
Mas a viagem começou pelo Leste Europeu. Voamos para Riga, na Letônia, pelo simples fato de que era mais barato do que voar direto para São Petersburgo. E não é que a cidadezinha acabou se mostrando uma surpresa muito agradável?
Para os curiosos: A Letônia, junto com a Lituânia e a Estônia, formam os Países Bálticos. Foi parte da União Soviética até 1991, quando declarou a sua independência. E, em 2004, entrou para a União Européia. A partir daí a economia do país está crescendo de maneira surpreendente, tanto que em 2004-05 foi o país com maior crescimento econômico de toda UE.
Riga é a capital da Letônia e a maior cidade dos Países Bálticos. Mesmo assim ela ainda preserva um ar de cidadezinha do interior, com pouco mais de 726 mil habitantes (em 2006). Cortada pelo Rio Duina, pode-se fazer um passeio gostoso pela orla, depois conhecer tudo o que se espera de uma cidadezinha do Leste Europeu: o centro antigo, a prefeitura, a catedral, o castelo, a praça e, não poderia faltar, um museu sobre a ocupação soviética.
Chegamos em Riga e já fomos logo descarregar as nossas mochilas no hostel. Bem que na descrição de como chegar no lugar eles diziam que era um pouquinho difícil de achar. Na tentativa de pegar um atalho acabamos meio que, vamos dizer assim, nos perdendo um pouquinho. Caminhamos, talvez, três vezes mais do que deveríamos ter caminhado para voltar ao ponto de partida e encontrar o hostel a uma quadra dali. Mas nada que fosse estragar o nosso humor, hehehe...
Estava um dia lindo e logo fomos passear pelo centro antigo. Conhecemos todos os pontos de maior importância. A cidade está especialmente bonita nesta época, com os jardins floridos e bem cuidados. Fomos também ver a catedral, que é um dos símbolos da cidade, famosa pela sua torre em espiral. No final do dia na volta para o hostel passamos pelo mercado onde compramos uma caixa de morangos, uma delícia!
Acordamos as 3h50, já que tínhamos que estar no aeroporto as 5h, para o nosso vôo das 7h. Com as mochilas nas costas descemos para procurar um taxi. Daí... imagina uma chuva forte, mas assim, uma chuva absurdamente forte, daquelas que alagam Porto Alegre todinha! Pois bem, trocamos os tênis por chinelos, colocamos nossas capas de chuva e pulamos pra fora do hostel a procura de um taxi. Chegamos no aeroporto ensopadinhos. Mas isso também nao iria estragar o nosso humor! Quando parecia que o pior já havia passado, fomos chamados para embarcar, e observamos que havia, talvez, mais umas 20 pessoas na sala de espera. Parece que este não é um trecho muito utilizado. Embarcamos em um Fokker 50, que mais parece um ônibus com asas, onde cabem 52 pessoas e mais a tripulação. Ai ai ai e essa chuva que não passa...
No final das contas o teco-teco pousou em São Petersburgo e estamos sãos e salvos, ufa!


O Museu da Ocupação Suviética e a Catedral ao fundo

Catedral



Jardins